Comunidades do Recôncavo Baiano se mobilizam para redução do uso da lenha
A iniciativa partiu das líderes da Associação Local Guaipanema e contará com o patrocínio da Petrobras e a realização do Instituto Perene
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) ainda hoje mais de três bilhões de pessoas dependem de fogões a lenha para cozinhar seus alimentos ao redor do mundo. O que alguns não sabem é que uma parcela dessas pessoas são marisqueiras e pescadores que vivem na região do Recôncavo Baiano próxima da Baía de Todos os Santos. O fogão usado nessas comunidades nada tem a ver com aqueles dos chefs ou cozinheiros de final de semana. Estamos falando de fogaréus improvisados, sem estrutura e que geram uma série de impactos sociais, ambientais e de saúde pública.
Uma realidade difícil, mas que não impediu que as lideranças comunitárias buscassem uma solução para mitigar a situação das milhares de famílias que moram no entorno e que ainda dependem da lenha para cozinhar no dia a dia ou para processar seus mariscos e pescados.
A solução pensada foi a instalação de fogões a lenha melhorados, em parceria com o Instituto Perene, organização sem fins lucrativos que atua na promoção de meios de vida, combate ao desmatamento e as mudanças climáticas. “Já havíamos trabalhado nessa região em 2007 e nunca perdemos o contato com a comunidade. As líderes da Associação Guaipanema procuraram novamente o Perene porque a comunidade já conhecia o fogão e queriam que retornássemos a essa região para que mais casas pudessem conhecer e receber essa tecnologia. Foi uma ação alinhada com a necessidade das comunidades por meio de grupos focais, reuniões e trocas de experiencias, ainda em 2018 ” – revela Guilherme Valladares – Engenheiro Florestal, diretor do Instituto e gestor do projeto.
Atanildes Matos, representante da Associação Quilombola Enseada do Paraguaçu e uma das mobilizadoras do projeto na cidade de São Roque do Paraguaçu, está muito satisfeita com o início do projeto e já enxerga seus benefícios. “Ele está voltando num momento muito bom porque o gás de cozinha está muito caro. Estamos nos sentindo muito incluídos. Geralmente as decisões chegam de cima para baixo e no projeto podemos participar, indicando as pessoas da comunidade que realmente precisam do fogão.” – revela a representante da Associação Quilombola.
Todo esse processo de mobilização para a redução do uso da lenha e melhoria da qualidade de vida das famílias do Recôncavo, será patrocinado pela Petrobras, por meio do seu programa Petrobras Sócio Ambiental. O projeto, que foi batizado de Fogão do Mar, atenderá mais de 2.500 famílias, instalando, treinando usuárias, monitorando e avaliando os fogões melhorados.
João Costa, representante da Associação de Pescadores (as), Marisqueiros (as), Lavradores (as)e Moradores (as) de São Roque e Enseada do Paraguaçu está muito consciente do seu papel na propagação da diminuição do uso da lenha na região. “Enquanto liderança é a oportunidade que temos de nos unir e ajudar aquelas famílias que realmente precisam do fogão. Para isso precisamos pensar juntos critérios justos e honestos para essa distribuição.” – reforça João.
Fogões tradicionais x Fogões ecoeficientes
Os fogões a lenha tradicionais, ou os fogaréus, são terrivelmente ineficientes e poluentes. Assim, a tecnologia do fogão ecoeficiente reduz significativamente esses efeitos negativos por meio de técnicas de combustão avançadas que entregam resultados palpáveis e de rápido reconhecimento pelas usuárias e demais partes interessadas. Para o meio ambiente, a redução da degradação dos remanescentes de matas e restingas é um dos benefícios gradativos já que o novo fogão funciona apenas com gravetos, emitindo uma quantidade significativamente menor de gases de efeito estufa para a atmosfera. Os benefícios para as famílias são imediatos: menor tempo de cocção dos alimentos, panelas sem fuligem, ar de melhor qualidade dentro de seus lares, melhora da saúde dos olhos e do sistema respiratório, facilidade para coletar a lenha e mais tempo para se dedicar a outras atividades.
Além de levar qualidade de vida para as famílias com o fogão melhorado, o projeto também fará a recomposição de algumas áreas degradadas da região por meio do plantio de mudas nativas, além da capacitação de pedreiros, auxiliares e agentes, para que o uso dos ecofogões possa ser incentivado de forma permanente.
O projeto atuará na RESEX Marinha da Baía do Iguape a partir do primeiro semestre de 2021 seguindo todos os protocolos de segurança que o momento pede. “A comunidade é engajada e ativa. Já sabe dos benefícios do fogão para o meio ambiente e para suas famílias. Vamos fazer um trabalho com segurança e respeito a todos. O envolvimento da coletividade é fundamental. É por isso que todo trabalho de engajamento, construção e acompanhamento será realizado por agentes locais que moram nas comunidades e atuam também como extrativistas marinhas.” – finaliza o Diretor do Instituto Perene.